Mulheres mães

Em 2018 decidi que traçaria novos rumos para a minha vida e para o meu trabalho com fotografia. Remei com todas as forças contra a maré o ano passado inteiro e percebi que muita gente também tem escolhido caminhos bem semelhantes aos meus. Isso me estimulou ainda mais a continuar e os encontros certos, inevitavelmente, começaram a acontecer. Decidi fazer um trabalho totalmente diferente em relação às famílias e aos retratos de mulheres. Procurei mais a minha essência, busquei pela dignidade de cada pessoa que fotografei e percebi que o meu trabalho tem muito mais de mim e muito mais de quem me procura. Hoje, eu não tenho dúvida nenhuma de que é preciso muito amor e identidade em qualquer ofício. Se adequar ao mercado pode ser interessante no primeiro momento, mas depois cansa e a gente se perde. Esta semana, zapeando pelas redes, vi essa foto que fiz da Camila Pavam e do Pedro para o meu trabalho “Em busca da origem” (http://marinacostafotografia.com.br/em-busca-da-origem/). A Camila postou essa foto que fiz com um texto lindo que coloco abaixo. Um texto que fala muito dela e de milhares de mães. Um texto que desmistifica qualquer idealização da maternidade e aborda o cotidiano da mulher mãe. Esse texto e essa foto falam muito da Camila e falam muito sobre o que eu acredito e busco diariamente. Sim. Vale muito à pena remar contra a maré e ver que tem muita gente na mesma onda.
 
Eu já fui a mãe que chega com as unhas feitas, cabelo penteado e outfit impecável.
E já fui a mãe que chega atrasada com calça de ginástica, cabelo oleoso e blusa manchada (e a mancha pode ser desde restos de comida até excressões de um mini corpo humano).
Eu já fui a mãe que amamenta feliz, e já fui a mãe que levanta resmungado porque teria que dar de mamar.
Eu já fui a mãe que cozinha tudo em casa, apenas com ingredientes orgânicos, e já fui a mãe que pede fast food por pura e absoluta preguiça.
Eu já fui a mãe que se voluntaria para ir ao passeio com a turma da escola, e já fui a mãe que esquece de mandar o lanche do filho.
Eu já fui a mãe que leva ao parquinho e inventa brincadeiras, e já fui a mãe que liga a televisão para ter sossego.
Eu já fui a mãe que contou até 10 e manteve a calma, e já fui a mãe que tem ataques estéricos.
Eu já fui a mãe que guardou para o filho a última e melhor colherada da sobremesa, e já fui a mãe que comeu chocolate escondido para não ter que dividir.
Eu já fui a mãe que conta os segundos para colocar as crianças para dormir, e já fui a mãe que fica pedindo mais um beijinho.
Eu já fui a mãe que trabalha, cuida da casa, e dos filhos, e já fui a mãe que não tem forças para sair do sofá.
Eu já fui a mãe que mantém a lucidez mesmo em situações enlouquecedoras, e já fui a mãe que grita com os filhos.
Eu já fui a mãe que cede aos pedidos de “mais 5 minutinhos”, e já fui a mãe que levou o filho embora arrastado e gritando.
Eu já fui a mãe que precisou de conselhos, e já fui a mãe que deu abraços apertados.
Eu já fui a mãe que faz cabanas na sala, e já fui a mãe que fingiu que estava dormindo só para não ter que responder.
Eu já fui a mãe que salvou o filho de um tombo, e já fui a mãe que perdeu o filho de vista em pleno parque temático.
Eu já fui todas estas mães e muitas outras. Muitas vezes fui várias delas em um dia só. Talvez você tenha me visto no meu melhor momento, e acreditou que eu era uma mãe exemplar, que tem tudo sob controle.
Talvez você tenha me visto em um momento ruim, e por isso pensa que sou um total fracasso.
Pouco importa. A vida não é perfeita, nem mesmo são as mães, nem mesmo são os filhos.
Todas nós já estivemos dos dois lados. Um momento, ou um dia, não define ninguém. Caso você esteja precisando saber: Você é uma excelente mãe e está fazendo um fantástico trabalho.
Por um mundo com menos dedos indicadores, e mais “eu sei que é difícil”!
(A Maternidade por Rafaela Carvalho)